Esportes

É Hora de Desmascarar as Bengalas do Futebol Brasileiro

É Hora de Desmascarar as Bengalas do Futebol Brasileiro

No apaixonante mundo do futebol, o Brasil sempre foi reverenciado como uma das nações mais emblemáticas, repletas de talentos e conquistas que ecoam pelos gramados do mundo. No entanto, em meio aos holofotes e à glória do passado, paira uma sombra que obscurece o presente: as bengalas do futebol brasileiro.

É inegável que a qualidade do jogo praticado no Brasil tem caído vertiginosamente nos últimos anos. O espetáculo que antes encantava multidões agora agoniza em um mar de mediocridade, refletido em partidas truncadas, carentes de criatividade e emoção. E as desculpas? Ah, as desculpas… Elas inundam as entrevistas pós-jogo, desviando o foco do verdadeiro problema.

Se observarmos atentamente a terceira rodada da Copa do Brasil de 2024, veremos um retrato sombrio da situação atual. Quinze jogos, a maioria deles confrontos entre times da série A e da série B. O resultado? Apenas três partidas com uma diferença de dois gols ou mais, enquanto as demais oscilaram entre empates e vitórias mínimas. Palmeiras, Vasco, Flamengo, Corinthians, Botafogo e Grêmio, todos em confrontos contra equipes de série B, apresentaram um desempenho aquém do esperado. Será que os nossos times, que tanto se propaga como tão superiores aos rivais sul-americanos dada a discrepância econômica entre o Brasil e os demais países da região, são tão bons assim? Afinal, não conseguem se impor frente aos adversários das séries B e C do futebol local. 

Não podemos ignorar os péssimos resultados da Seleção Brasileira nas últimas Copas. Desde o título mundial em 2002, a Seleção Brasileira tem enfrentado um declínio em seu desempenho nas Copas do Mundo. Em 2006, na Alemanha, foi eliminada nas quartas de final pela França. Em 2010, na África do Sul, pela Holanda. O ponto mais baixo veio em 2014, quando sofremos em casa uma derrota humilhante por 7 a 1 para a Alemanha nas semifinais. Em 2018, na Rússia, a equipe foi eliminada nas quartas de final pela Bélgica. E todos ainda se lembram da lambança na Copa do Catar, quando a Croácia nos despachou. 

Se muitos dizem que as estatísticas não mentem, vamos então a elas para aprofundar um pouco mais essa crítica. Um estudo da empresa francesa SkillCorner, divulgado pelo Observatório de Futebol do CIES, revela que o Brasil está abaixo de ligas pouco tradicionais como a sueca, polonesa e grega em termos de intensidade de corrida durante as partidas. Será que as condições externas como calendário, gramados e arbitragem são os únicos culpados por esses dados científicos? 

Mais um ponto: muitos acreditam que o Brasil é o grande celeiro de craques do mundo. Será que continuamos a produzir talentos na mesma escala que no passado? Cite então quais grandes craques brasileiros chegaram perto de conquistar o troféu da FIFA de Melhor do Mundo. Temos dois jogadores valiosos no Real Madrid (Vinicius Júnior e Rodrygo), uma estrela em ascensão (Endrick) e… 

Por que vivemos isso? Seria a nossa base deficiente? Os grandes clubes estão mais preocupados em vender jogadores do que em formar verdadeiros craques? Tenho a impressão de que os jogadores brasileiros já não sabem mais fazer passes, já não sabem mais lançar, já não sabem mais finalizar, já não sabem mais cabecear. Os fundamentos básicos decaíram muito em comparação aos estrangeiros. Os jovens brasileiros, que nascem com grande talento, estão sendo vendidos para clubes europeus e, ao chegarem lá, precisam se reinventar – o que explica porque os atletas são comprados cada vez mais novos. Não necessariamente para ter mais vida útil dentro dos campos, e sim porque cada vez mais é preciso mais tempo para livrá-lo dos cacoetes e vícios advindos de uma base ruim. Antigamente, craques como Zico e Sócrates chegavam nos times para serem titulares. Hoje, se compra o jogador júnior porque será preciso promover uma adaptação que vai além de clima, cidade, comida. O processo envolve ensinar fundamentos básicos. 

É inadmissível que um país com a história e a paixão pelo futebol como a nossa se contente com performances tão abaixo da média. Precisamos de uma análise profunda e corajosa sobre o estado atual do futebol brasileiro. Certamente existem diversos fatores que contribuem para essa situação. Dentre os quais destaco a cada vez mais calamitosa gestão dos clubes, afogados em dívidas criadas por cartolas fanfarrões e pouco imbuídos de profissionalismo e de real vontade de sanar os problemas das instituições que dirigem. 

Mas não quero aqui destrinchar cada um desses fatores que denigrem nosso futebol. Quero, sim, enfatizar que chegou a hora de desmascarar as bengalas que sustentam essa decadência e buscar soluções reais para revitalizar o esporte que tanto amamos. Não podemos mais assistir aos campeonatos europeus e ao Campeonato Brasileiro e ter a certeza de que se trata de dois esportes distintos. De que lá se pratica futebol e aqui, algo que tenta se assemelhar ao velho esporte Bretão. Até porque, se observarmos as médias de público de nossos campeonatos, veremos que inacreditavelmente elas estão aumentando. E ao contrário do que muitos pensam, isso não é reflexo de uma melhor qualidade do espetáculo. E sim do fato de que os espectadores estão se acostumando e se resignando com esse baixo nível de futebol. 

Se queremos recuperar o nosso lugar de destaque nos gramados mundiais, é imperativo agir agora. Não podemos mais nos esconder atrás de desculpas esfarrapadas. O futebol brasileiro merece mais do que isso. E nós, como apaixonados pelo esporte, merecemos ver a nossa seleção e os nossos clubes brilhando novamente, com um jogo digno de nossa tradição.

About Author

Maurício Ferro

O que o futebol, vinhos, direito, política e economia têm em comum? Muito mais do que você imagina. E ao contrário do que prega o ditado popular, podem e devem ser debatidos e analisados sim. Sejam bem-vindos ao site de Maurício Ferro, um canal para se criar e trocar pensamentos e opiniões. Maurício Ferro é advogado, formado pela PUC do Rio de Janeiro, com mestrado e especializações realizadas em universidades como a London School e University of London. Cursou OPM na Harvard Business School. Autor de trabalhos publicados nas áreas comercial e de mercado de capitais, e com atuação no Conselho de Administração de grandes empresas, fundamentou sua carreira jurídica e executiva com foco do Direito Empresarial. Mas sua paixão vai além do mundo corporativo. Flamenguista apaixonado, Mauricio conhece os meandros do mundo profissional do futebol e de outros esportes. É sócio em empresas inovadoras como a 2Blive, uma startup global focada em soluções tecnológicas para suprir a carência no ensino, especialmente em áreas de grande necessidade como a África. Investe ainda na empresa Flow Kana, sediada na California, e voltada para a produção científica da Canabis para diversos fins, como medicinal, produção de roupas ou uso recreativo. A todos esses ingredientes, adicione ainda um profundo conhecimento sobre vinhos e os caminhos deliciosos da enologia. Essa é a receita do que vocês encontrarão por aqui.

1 Comment

  • Parabéns pelo artigo!

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *