Governo fraco, país fraco

Nas últimas semanas, uma série de medidas afetou profundamente o governo: a devolução da MP do PIS/COFINS, o PL das Praias, o PL do Aborto, o PL das Blusinhas, o equilíbrio fiscal, o eterno embate da Petrobras, seja com dividendos ou mudanças de gestão, entre outros. Tudo isso deixou o governo na defensiva, sem capacidade de articulação. Para piorar, desde o início, o governo atual enfrenta grave problema de comunicação.
Parte dessas medidas legislativas são armadilhas que o Congresso plantou para desgastar o Executivo, o que demonstra o caráter dos atuais congressistas. Mas parte desta crise é de responsabilidade do próprio governo, que ainda peca na sua articulação política e carece de um plano.
É verdade que o resultado apertado das eleições presidenciais e a composição atual do Congresso obrigam o presidente a compor com outros partidos para formar uma base minimamente segura e manter a governabilidade, tornando sempre difícil a aprovação de projetos legislativos.

De qualquer forma, espera-se mais deste governo e das habilidades de articulação do presidente Lula, que parece não ter percebido a mudança cultural da política nacional. A Brasília dos primeiros mandatos de Lula não é a mesma, e a forma de negociação também mudou. Se antes as negociações se baseavam na distribuição de ministérios para formar uma base aliada, hoje a fidelização partidária se dá na negociação de cada projeto de forma individual, independentemente do número de ministérios que o partido possua.
Para melhorar a articulação política, Lula deve se cercar de bons articuladores políticos que tenham credibilidade, competência e autonomia para negociar. Pelo que estamos vendo até aqui, nenhum destes três requisitos são preenchidos pelos responsáveis pelo diálogo no Congresso. Com isso, toda semana é um desgaste novo.
Churchill tinha uma expressão que dizia que os EUA sempre chegavam numa política correta depois de testar todas as outras; o Brasil de hoje nos dá a ideia de que a gente continua testando todas as outras políticas sem saber se vamos chegar numa correta.
Na agenda econômica, que vinha trazendo notícias boas e credibilidade ao governo, houve um bombardeio ao ministro da Fazenda, tanto pelo mercado financeiro quanto pela própria base aliada. Isso fez com que a política de equilíbrio fiscal através do aumento de arrecadação não funcionasse mais. Será necessário entrar numa agenda de redução de custos, um tema que o governo sempre procurou evitar, mas que se tornou imperioso.
As eleições municipais deste ano trazem um elemento adicional para o diagnóstico sobre a aprovação popular do governo, que vem se deteriorando nos últimos meses. E o fato de a extrema direita ainda contar com apoio expressivo da população, mesmo diante de tudo que se revelou nos últimos anos, torna mais dramática a necessidade de se encontrar um equilíbrio político adequado.
A agenda política do país está dilacerada não só pela polaridade de opiniões, mas pela mudança da forma de se fazer política. O presidente Lula precisa colocar seus anos de experiência em ação, pois seu entorno não está conseguindo resultados. O governo está claudicante e isso torna o país fraco. E no mundo atual, de guerras e incerteza econômicas e sociais, ser visto e percebido como um país fraco gera consequências graves ao bem-estar social e à sua democracia.