Uma despedida e três aulas de como amar o que se faz
Essa semana, em menos de 24 horas, o jornalismo esportivo brasileiro perdeu três de seus ícones: Washington Rodrigues, o Apolinho; Sílvio Luiz; e Antero Greco. Mesmo com toda a tristeza que envolve o adeus a esses três ícones, encontro nessa despedida uma importante oportunidade para refletir sobre a paixão. Mais especificamente a importância de se trabalhar com paixão. Afinal, esses três comunicadores não apenas fizeram história no jornalismo e no entretenimento, mas deixaram claro que o amor que empregaram no que faziam profissionalmente transformou suas carreiras e criou legados eternos e transcendentes.
Apolinho, mais conhecido no Rio de Janeiro, começou sua carreira como repórter esportivo e logo se destacou como comentarista e apresentador. Além de sua habilidade técnica, o Velho Apolo era famoso por criar expressões que se tornaram parte do vocabulário, como “chocolate” para descrever uma goleada, e os famosos “arquibaldos e geraldinos”, ao se referir aos frequentadores do antigo Maracanã. Sua paixão pelo Flamengo era tão intensa que no centenário do clube foi convidado para ser técnico do time. Essa transição de jornalista a técnico ilustra seu conhecimento do esporte, mas também sua devoção inabalável ao Flamengo. Sair das tribunas de imprensa rumo à área técnica dos gramados é algo que só tinha se visto antes com o também inesquecível João Saldanha.
Já Silvio Luiz, com seu estilo irreverente e bordões inesquecíveis, revolucionou a narração esportiva. Ele transformou cada jogo em um espetáculo único, com expressões como “Pelas barbas do profeta!” e “Pelo amor dos meus filhinhos!”. Silvio não era apenas um narrador; ele era um verdadeiro showman, cuja paixão pelo que fazia era evidente em cada transmissão. Ele quebrou o molde da narração séria e sisuda, adicionando humor e personalidade, o que lhe rendeu um lugar especial no coração dos fãs de futebol.
Antero Greco, também iniciou sua carreira como repórter de campo. Mas ao assumir a bancada do jornalístico SportCenter da ESPN Brasil ao lado de Paulo Calçade, ele inseriu em definitivo o bom humor e o entretenimento ao ofício de reportar as notícias. Antero e Calçade eram conhecidos por suas tiradas espirituosas e momentos de riso contagiante, mostrando que o jornalismo esportivo podia ser leve e divertido sem perder a seriedade. Essa quebra de paradigma na TV deu força e inspirou uma nova geração de jornalistas esportivos que assumiram de vez o entretenimento com parte da cobertura.
O que une Apolinho, Silvio Luiz e Antero Greco é a paixão pelo que faziam. Eles não se destacaram apenas pelo talento, mas também pelo amor profundo que tinham por suas profissões. Essa paixão era perceptível em cada comentário, narração e programa apresentado. Eles provaram que, quando se trabalha com amor e dedicação, o impacto é duradouro e significativo.
Esses três comunicadores mudaram o jornalismo esportivo, mas também inspiraram novas gerações a enxergar o trabalho com paixão e criatividade. Seus feitos continuarão influenciando a maneira como o jornalismo esportivo é praticado e consumido no Brasil. Hoje, vemos programas esportivos que incorporam humor e diversão, um testemunho do impacto duradouro de Apolinho, Silvio Luiz e Antero Greco.
A vida e a carreira desses comunicadores nos lembram da importância de encontrar e seguir nossa verdadeira paixão. Algo que deve ser empregado por todos, independentemente da profissão que cada um exerça. Seja advogado, economista, cineasta, diretora comercial fodona, estudante, psicólogo, executivo de empresa em recuperação judicial, mesmo que em ambientes difíceis, trabalhar com alegria erradia e faz do suor e do duro esforço algo mais leve. Os exemplos que os três nos deixaram demonstram que, ao amar o que se faz, é possível não apenas se destacar, mas também inspirar e ajudar as pessoas. Em um mundo onde o trabalho muitas vezes é visto apenas como uma obrigação, a história desses três gigantes nos convida a buscar aquilo que realmente amamos, pois é essa paixão que transforma vidas e deixa legados inesquecíveis. O mundo hoje exige compliance e comitês. Nada mais desestimulante para exercer a profissão. Hoje a ideia é desconfiar do ser humano e tirar sua alegria e naturalidade. Eles mostraram como um ambiente feliz e leve contagia os outros.
Portanto, se nesse momento nos despedimos desses craques, vamos também adotar esse exemplo. Afinal, amanhã mesmo já temos a oportunidade de transformar uma rotina e um ofício em uma ação que edifique o bem para nós, para nossos entes queridos e para todos.