Todo pessimista é um inoperante
“O otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando.”
Juscelino Kubitschek
Diz o dito popular que “mente ociosa é a oficina do demônio”, ou que “o ócio é a mãe do pecado”. Geralmente os ditos populares não são resultados de estudos empíricos que os balizam, mas de percepções sociais, em tempo e espaço, de uma certa conduta que norteia determinada sociedade. E a sociedade associa o ócio ao pessimismo.
Não quero dizer que o Schopenhauer, considerado pela literatura e pela historiografia como o grande metafísico pessimista de todos os tempos, nunca tenha trabalhado ou produzido nada. Pelo contrário, ele que considerou ser esse “o pior dos mundos possíveis” e esboçou um manual de regras para a “arte de ser feliz”, foi muito produtivo em obras literárias, mas a verdade é que em todos os seus escritos empregou apenas três vezes o termo pessimismo para se remeter de forma direta à sua própria doutrina.
O termo pessimismo é geralmente tomado em leitura filosófica no sentido ontológico, ou seja, é próprio de visões de mundo cujos princípios cardinais consideram o “não ser” como preferível ao “ser”. O pessimista é, por assim dizer, um sujeito que não toma risco, que entra em campo já perdendo o jogo. Esse é o ócio que vem da covardia de não tentar.
O pessimista é, por definição, um determinista, aquele que acredita que tudo já está definido e fadado ao fracasso. Já o otimista, em oposição, é um consequencialista, aquele que acredita que os acontecimentos são consequência de suas ações e, portanto, passíveis de serem controlados. O otimista é esperançoso, anseia o melhor para si.
Esperança é uma característica única dos seres humanos.
Não à toa o célebre escritor humanista italiano Dante Alighieri, na sua obra prima A Divina Comédia”, descreve que na porta do inferno está escrito “lasciate ogni speranza, voi che’ entrate” (deixai toda a esperança, ó vós que entrais), pois a esperança é característica básica da alma humana.
A visão passiva do pessimista é antagônica à criatividade humana, que necessita da combinação de esforço e esperança. Esforço para aceitar os erros como tentativas. Esperança, pois verdadeiramente se crê no sucesso.
O filósofo alemão Karl Marx, ao descrever a relação entre liberdade e criatividade, preceitua que a melhor das aranhas sempre será pior que o pior dos tecelões, pois este tem algo que a aranha não tem, a possibilidade de criar. A aranha faz teias inacreditavelmente belas, porque tem um defeito congênito: ela nasceu sabendo. Por isso ela faz a mesma teia que sua mãe e sua avó faziam, será sempre repetitiva e sem criatividade.
A criatividade ocorre quando se rompe o lacre da mesmice. Portanto, o pior dos tecelões sempre pode aprender aquilo que não sabe. E para aprender precisa de esforço e esperança, e consequentemente otimismo de que vai aprender.
Mas por que é importante ser criativo? Porque essa dimensão é uma expressão de liberdade que, através do ato de inovar, pode nos transformar. Qualquer pessoa pode ser criativa. Qualquer pessoa pode crescer com o ato criativo. Criatividade não é algo elitista, é para todo mundo. Me revolto quando pessoas desistem antes de tentar, por acreditarem não ser criativas, e com isso deixam de arriscar e se retraem. Todo ato criativo envolve dose de risco. Quem deixa de tentar ser criativo por medo de fracasso acaba vivendo menos. Albert Einstein dizia que pessoas sem a capacidade de se maravilhar com o mundo, com o mistério da existência, são como velas que se apagam.
O ato criativo nos diferencia dos outros animais porque temos a habilidade de nos desviar do “código” de quem somos, isto é, da mesmice que vem com a rotina da sobrevivência. O pessimista nunca será criativo, pois a sua essência é a do “não ser”, do “não fazer”, do “não se expor” e do “não produzir”. Portanto, um inoperante.
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Esperança e otimismo sempre…..parabéns pelo texto.