Planejamento leva a Vitórias
Estamos todos consternados. Corroídos. Arrasados com a derrota de ontem. Nossa primeira reação é a de raiva e a busca por culpados para descarregar nossa decepção. o time jogou muito mal. É fato. Não mereceu a classificação. O juiz foi tendencioso no critério dos cartões amarelos e na marcação de duas penalidades máximas e prejudicou o Flamengo, mas são somente desculpas e não estanca nosso sentimento de tristeza.
Qual a lição que se tira desta dura derrota? Planejamento é a resposta. Planejamento é um processo que envolve a definição de objetivos, a avaliação de alternativas, a seleção de caminhos, a estimativa de recursos e o acompanhamento e controle da execução das ações. É um processo para alcançar metas desejada, através da melhor utilização de recursos disponíveis.
Há tempos o futebol deixou de ser um esporte de resultados imprevisíveis. Basta ver os campeões dos torneios mais importantes para chegar a conclusão natural que o universo do futebol gira em torno de alguns times melhores estruturados. E quando acontecem os resultados inesperados este fato está mais ligado aos erros, principalmente de panejamento, dos maiores times do que as virtudes dos times mais fracos. Com forte ingresso de recursos financeiros, os clubes se modernizaram. Arenas foram erguidas, centros de treinamento no estado da arte, e contratações de atletas diferenciados ficaram mais frequentes. Independentemente da origem dos recursos, os times viraram verdadeira seleções multiterritoriais. No Brasil, somente o Flamengo se estruturou para esta nova era de forma sustentável. As SAF’s brasileiras são muito novas e ainda não tiveram tempo de se provarem. O Flamengo, ao contrário dos demais rivais, não depende de mecenato e mesmo assim aumenta sua receita anualmente de forma recorrente e com isso está longe de precisar virar SAF para viabilizar a sua sobrevivência. A partir de 2016, depois da casa arrumada financeiramente, começou a investir em contratações de peso que transformaram o time numa equipe de elite. Este time vem dominando o cenário nacional e sul-americano há 4 anos. Não ganhou todas as competições que disputou, é verdade, mas foi e é tido como favorito em todas elas.
Daí porque a dor de hoje do torcedor é maior do que o normal. Flamengo tem melhor time que o Al Hilal, melhores jogadores, pode continuar contratando jogadores diferenciados e com estrutura de apoio e CT supermodernos. Mas, então por que jogou tão mal? Voltamos ao planejamento. Claramente o clube não se planejou adequadamente para este início de temporada. O time se arrasta em campo fisicamente, jogadores há tempos não rendem o esperado, as contratações quando não fracassadas demoram a surtir efeito e com isso a performance do time vem caindo ao longo destes 4 anos. Os lampejos de bom futebol têm durado cada vez menos. Insuficientes para fazer frente ao calendário atual. Sem falar na constante troca de técnicos, no critério tentativa e erro, que é o método utilizado comumente no futebol brasileiro de experimentar diferentes ações até encontrar a solução correta para determinado problema. Cada troca de técnico é um novo começo e gera tempo para surtir seus efeitos positivos. Tempo este que o flamengo não tinha para este início de ano.
O bom planejamento não permitiria férias de 60 dias aos jogadores, tendo importantes competições logo no início da temporada. Seguraria jogadores importantes até o fim do mundial. Daria mais tempo de adaptação ao recém-chegado, por melhor que seja este jogador. Identificaria as lacunas técnicas do time e partiria para contratações destas posições na janela do final do ano passado. Haveria uma discussão mais aprofundada sobre o técnico a ser contratado e o momento desta contratação. Não é que o time jogou mal uma partida no início da temporada. Não tem jogado nada desde o final da temporada passada até hoje. Há tempos se fala em alternativas à altura dos principais jogadores, mas as contratações não acontecem. Desde 2019 o flamengo tem seguido o padrão de jogar fora o início do ano, para mudar tudo no meio e corrigir o que está errado ao longo dos campeonatos. Claramente, mais uma vez, não houve um bom planejamento para a temporada que se seguirá.
Num time estruturado do porte do flamengo, com a maior torcida do país, cada partida deve buscar ser um espetáculo, independentemente da importância do campeonato. Para tanto é preciso ter um plantel robusto em número e em qualidade. As grandes ligas mundiais têm média de publico elevada em todos os jogos. Isto porque se busca grandes exibições jogo a jogo. Na partida de ontem, o time de maior estrutura no futebol brasileiro não tinha alternativa a má performance de seus principais jogadores. Jogou como um time de elenco limitado.
Com bom planejamento o time não ganhará necessariamente todas as competições que disputar, mas a tendencia é que tenha sucesso na grande maioria delas. Do lado do torcedor, planejamento e transparência ajudam a mitigar as dores da derrota, sem tirar os méritos coletivos e individuais das vitórias. Flamengo continuará a ser o clube de maior capacidade de contratação. Por isso, seus dirigentes, comissão técnica e jogadores precisam entender que a dor da derrota será sempre maior. Não podemos nos iludir com a premissa de que o flamengo tem o melhor elenco da américa do sul, como se isso, por si só, fosse o suficiente. Já há vários exemplos que desmentem esta tese, inclusive no próprio flamengo.
Um clube bem estruturado precisa de dirigentes profissionais remunerados. Estes se incumbem de viabilizar a estrutura necessária para atingir os objetivos traçados no planejamento em tempo hábil para que as metas sejam atingidas. Este planejamento precisa ser detalhado e transparente para que não haja duvida das prioridades do clube na temporada. Isto significa dedicação exclusiva ao clube, sem funções políticas ou executivas paralelas. Nenhuma empresa permite tal situação. Nada contra as pessoas que estão no comando atualmente, mas é preciso saber que a dedicação de cada um deles é exclusiva ao time.