O empresário fanfarrão
“Às vezes, a falta de resposta é o melhor insulto”
Paulo Coelho
Elon Musk é um empreendedor bem-sucedido, isto é fato. Defensor da economia liberal – mas que usa e abusa de investimento público nos seus negócios –, tem muito a acrescentar no mundo empresarial da tecnologia. E só isso.
Como figura pública, é um fanfarrão. Vive envolvido em situações bizarras e é conhecido por disseminar informações falsas nas redes sociais. Já foi obrigado a renunciar à presidência da Tesla por 3 anos graças a bobagens que publica. Também foi muito criticado por mensagens pejorativas a um mergulhador responsável pelo resgate de adolescentes presos numa caverna na Tailândia. Defensor da cloroquina como tratamento da COVID, Musk sustenta que foram os alienígenas que construíram as pirâmides do Egito.
Portanto, como diz o velho ditado: “de boca fechada é um poeta”.
Agora, me espanta como este assunto mobilizou o país por dias. Como é possível uma declaração de um empresário rico sul-africano fazer com que as instituições brasileiras dediquem tempo e neurônio para debater o assunto? Os três Poderes se pronunciaram oficialmente sobre o tema de forma veemente. Falam em ataque à democracia, desrespeito à soberania nacional, conspiração da ultradireita, ataque coordenado às supremas cortes no mundo, citando o episódio da Venezuela e de Israel. Dizem que ele desrespeitou autoridades brasileiras e tratou o país como uma república das bananas.
Na verdade, as autoridades brasileiras é que se comportaram como país pequeno ao reagir com tanta intensidade a um falastrão contumaz. Alguém consegue imaginar a via reversa? Um grande e rico empresário brasileiro faz uma declaração de que não vai obedecer às decisões da Suprema Corte norte-americana e isso passa a gerar manifestações públicas dos seus juízes, o congresso americano se mobiliza, o presidente Biden faz declaração sobre o tema, as instituições norte-americanas afirmam que a soberania e a democracia do país estão sob ataque.
Isto é inimaginável e até risível.
Por que tamanha reação? Basta cumprir a lei. No código penal brasileiro, o descumprimento de ordem judicial pode ser enquadrado em diversos artigos, dependendo da natureza da ordem e as circunstâncias específicas. Portanto, pode-se aplicar o crime de desobediência (art. 330), desacato (art.331), desobediência a decisão judicial (art. 359). Todos com pena de prisão. Assim, se a empresa do palrador Elon Musk descumprir decisão judicial, seus representantes no Brasil estarão sujeitos a prisão. E se a ordem de prisão se der contra pessoa residente no exterior, coloca-se um alerta vermelho na Interpol para que seja cumprida pela polícia internacional.
Este comportamento vitimista e exagerado que costumamos empreender nos temas internacionais nos caracteriza como um país de segundo mundo, no qual damos muita importância ao que os estrangeiros pensam e pouca relevância ao que realmente fazem. Vivemos uma crise de profundidade. Tudo é muito raso, superficial e vale mais pela aparência. Uma mera postagem de poucos caracteres gera mais impacto que uma tese de doutorado. Precisamos de mais profundidade nos debates, mais conteúdo, eloquência, erudição e consequentemente mais educação. Quem se importa com o que o empresário fanfarrão fala, mas não faz, demonstra seu desapego com o que importa.