O declínio da Política
“A política é a arte de buscar problemas, encontrar todos, fazer um diagnostico falso e aplicar as soluções erradas.”
Groucho Marx
Costuma-se dizer que a política é a arte de engolir sapos. Nos dias de hoje, digo que a política é o território da farsa, onde a verdade se perde nas mentiras dos que a manipulam.
Peguemos como exemplo o julgamento da cassação do mandato do senador Sergio Moro. Discute-se se as verbas de que ele se utilizou na fase pré-campanha deveriam ser computadas para efeito de prestação de contas e observância dos limites legais do gasto de uma campanha eleitoral.
A tese em julgamento é de suma importância, pois balizará as ações dos candidatos nas eleições futuras. Ou seja, quando o TSE proferir a decisão final, saberemos se há limites para gastos eleitorais, ou se a porteira está aberta às falcatruas dos políticos inescrupulosos. O fato de ser um julgamento que envolve Sergio Moro dá mais luz ao tema, por ser uma figura execrável como juiz e político.
Ao analisarmos sua atuação política veremos um mesmo padrão de desonestidade moral e legal que empregava no período em que era magistrado. Primeiro, usou a toga de juiz para tentar destruir a classe política. Depois, descumprindo a promessa, abandonou a toga para entrar na política e se tornar ministro de um governo que ajudou a eleger, exigindo em contrapartida que lhe fosse garantido o cargo de ministro da Suprema Corte. Vendo que a promessa não seria cumprida, trai seus aliados com acusações graves de crimes cometidos pelo então presidente para se lançar como candidato a presidente da República.
Durante a campanha, já polarizada entre dois candidatos, volta atrás nas acusações públicas que fez e retorna a ser aliado do governo que tanto criticou. Se lança candidato ao Senado Federal por São Paulo, abandonando seu estado natal. Teve seu registro eleitoral em São Paulo cassado e se vê obrigado a retornar ao estado que abandonara meses antes, traindo seu padrinho político para tomar seu cargo de senador. Deverá ser indiciado pela Polícia Federal por crimes de peculato e malversação de dinheiro público à época em que era juiz federal. Agora tem suas contas contestadas e sangra em praça pública a ponto de, por medo de ser preso, ir rastejando pedir ajuda a Gilmar Mendes, seu maior desafeto e a quem várias vezes chamou de corrupto.
Assim, graças às suas sucessivas farsas e traições, consegue uma façanha política: unir a direita e a esquerda numa causa comum, a cassação de seu mandato.
Este rápido resumo dos movimentos imorais demostra bem a que ponto a política chegou. Candidato despreparado, partido de fachada, candidaturas biônicas, fake news, malversação de gastos de campanha, registro fraudulento em domicílios eleitorais inexistentes. Não há limites para os abusos destes políticos mal-intencionados. A regra eleitoral está uma bagunça, e o péssimo nível moral e intelectual dos políticos piora ainda mais a situação.
A política brasileira passou por transformações significativas ao longo das décadas e a figura de políticos como Sergio Moro se destaca como exemplo de práticas questionáveis que contribuíram para o declínio do nível ético, legal e moral do cenário político nacional.
Nas décadas anteriores, a política brasileira era marcada por debates ideológicos intensos e lideranças que, mesmo com suas divergências, tinham um comprometimento com ideais políticos e sociais. Figuras como Juscelino Kubitscheck, Roberto Campos, Carlos Lacerda, Leonel Brizola, Franco Montoro, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães representavam correntes políticas distintas, mas mantinham um respeito pelas instituições democráticas e um compromisso com suas ideologias e com o bem-estar da população.
Ao longo das décadas seguintes, o cenário político mudou drasticamente. O grande número de partidos políticos com pouca representatividade e a ascensão do centrão, um grupo de partidos políticos sem ideologia e caracterizado por negociações pragmáticas em troca de apoio político, trouxe uma série de práticas que minaram a transparência e a ética na política. A busca por cargos e recursos públicos passou a ser prioridade sobre o interesse público, abalando a confiança da população nas instituições políticas.
Exigir dos políticos atuais uma mudança de comportamento ético e comprometimento com interesse público parece ser uma meta inalcançável, mas impressiona como o fundo do poço ainda está distante para a degradação da política brasileira. A justiça eleitoral precisa agir para que estas farsas eleitorais tenham limites.