Educação

Inteligência Artificial e Educação a Distância como multiplicadores do Ensino

Inteligência Artificial e Educação a Distância como multiplicadores do Ensino

Não é de hoje que pesquisas envolvendo inteligência artificial (IA) e educação são objetos de estudo. Embora o campo de pesquisa no Brasil ainda seja incipiente, em outros países estudos relacionados surgiram há cerca de 20 anos. Seja na educação formal, ou em ambientes informais de educação, IA se posta a auxiliar as relações de ensino-aprendizagem, tornando-se uma ferramenta poderosa de ensino e coleta de dados. É possível observar e entender as micro etapas pelas quais os alunos passam na aprendizagem de um conteúdo. Os erros e as dúvidas dos alunos dão pistas valiosas de como o aprendizado acontece e auxiliam no fornecimento de dados, possibilitando rever a didática de ensino empregada pelos professores em sala de aula, ou até mesmo na educação a distância.

Fundamental que os softwares educacionais dotados de IA interajam com o mundo da mesma forma como a própria inteligência humana o faria. Para isso, são criados modelos que seguem o uso de três padrões: o modelo pedagógico, o modelo de aprendizagem e o modelo de conteúdo, transformando IA em verdadeiros tutores dos alunos.

O sistema de tutores inteligentes são ferramentas aptas a atuar onde se identifica a dificuldade de aprendizagem. São sistemas programados para simular uma tutoria individual, personalizando o processo de ensino de tal forma a se tornar um professor particular, trabalhando justamente no erro do aluno e usando dados coletados durante a sua interação.

Tutores adaptativos incluem uma série de ferramentas que identificam estados cognitivos afetivos dos alunos e usam estes dados a favor da aprendizagem, ou seja, o bom humor do aluno interferindo na sua capacidade de desenvolvimento. IA usa o diálogo para envolver o aluno no aprendizado reflexivo de experiências em questões e discussões, ou inclui situações para promover a reflexão e autossuficiência. Aumenta motivação e o engajamento do aluno, pois já é de conhecimento comum que o aluno motivado aprende com mais facilidade.

Este sistema, além de auxiliar de forma personalizada, gera dados valioso para pesquisa sobre o processo de aprendizagem, sinalizando, por exemplo, as passagens onde são encontradas o maior número de dúvidas, dando dicas de como funcionam os mecanismos de aprendizagem de forma específica.

 A IA como ferramenta de expansão da educação para as áreas mais remotas

Se IA tem se demonstrado importante ferramenta de progresso na educação presencial, imagine expandir estes mesmos benefícios às áreas mais remotas e atingir, em larga escala, grupos que, por razões geográficas, políticas, ou culturais estejam afastados.  As plataformas de ensino a distância (ED) já são uma realidade no ensino corporativo e no ensino tradicional. Seus benefícios estão absorvidos na sociedade moderna. As plataformas adaptativas de ensino a distância que utilizam inteligência artificial são mais sofisticadas e já existem em países como Reino Unido, Suécia e Estados Unidos. Com isso, transformaram a capacidade de ensinar, trazendo metodologias mais lúdicas e participativas, juntando os benefícios da IA com a massificação da ED a diferentes regiões. Dentro das plataformas combinadas de IA e EAD são oferecidas aulas, atividades e o aluno é acompanhado em todos os seus processos. A sistematização e análise de dados coletados são repassadas ao professor para acompanhar o progresso do aluno que, com estes dados, tem capacidade para tomar decisões mais embasadas. Portanto, para a escola essas plataformas combinadas funcionam como suporte educacional com os dados auferidos. Para o aluno são utilizadas como auxílio em determinadas matérias.

Uma aliada contra o abandono dos alunos, as faltas e os atrasos

Existem, ainda, outras formas de empregar a IA e ED no campo educacional. Aplicativos que identificam o comportamento de possível abandono do curso, através da coleta e análise de dados, tais como frequência, atrasos, engajamento nas disciplinas. Dados que estudam linguagem, gestos e sinais fisiológicos que o corpo humano apresenta. Estes dados identificam sinais de humor e depressão dos alunos e criam forma de combater esta autossabotagem de aprendizado que os alunos acabam realizando inconscientemente. Conseguem, ainda, analisar as características de um aluno que esteja propenso a desistir do curso, avisando ao tutor dessa propensão e acionam ferramentas de incentivo da própria plataforma para tentar engajar novamente este aluno.

IA e EAD ajudam, também, na formação de grupos de professores para ponderar sobre qual a formação é mais adequada a produtividade de cada indivíduo, algo que muitas vezes não se identifica com exatidão dentro da sala de aula.

O uso de uma rede mais ampla de análise e dados fornece benefícios na administração de grandes grupos e ajuda no processo de aprendizagem como um todo, mesmo em ambientes onde não seria possível estar presente, tais como ambientes históricos, ou geograficamente inacessíveis. Fazem com que os alunos consigam interagir com os ambientes simulados, proporcionando um grau de abstração e reflexão que uma aula expositiva não conseguiria.

Tudo isso já existe e é possível de ser alcançado em países com maior deficiência de ensino básico. Assim, a utilização da inteligência artificial combinada com a capacidade de alcance das plataformas de educação a distância forma uma parceria tecnológica exponencial capaz de diminuír as desigualdades de ensino no mundo.

O papel social da escola ainda mais ampliado

Sabemos que nos países subdesenvolvidos as escolas desempenham um papel que vai além da mera educação. São provedores de alimentação básica, higiene e até mesmo porto seguro para crianças que estariam largadas no ostracismo social. ED, IA e educação presencial não são conflitantes. Pelo contrário. São complementares e sinérgicos. O papel social da escola seria multiplicado com a ajuda da tecnologia para atingir mais com pessoas carentes de ensino. Para isso é preciso forte incentivo da iniciativa pública, privada, das ONGs e das Fundações ligadas à educação. Se o Vale do Silício nasceu de alto investimento público, combinado com as oportunidades capturadas pela iniciativa privada, um paralelo desta junção virtuosa pode ser replicado no Brasil para a educação básica. Empreendedores educacionais como, Bing Chen, CEO da plataforma americana de ensino a distância 2 Be Live, nos contagiam de esperança, quando nos mostra o impacto real nas crianças carentes no remoto vilarejo da cidade de Krong Battambang, no Camboja, com as aulas de inglês ministradas pela plataforma educacional. Segundo Bing, o custo da hora/aula na plataforma de educação a distância é infinitamente menor do que o da educação presencial e o alcance e o impacto nas comunidades são incomparáveis. Além do mais, está cada vez mais difícil encontrar professores que possam, ou queiram, viajar por longos períodos e distâncias a lugares remotos para ensinar. No Brasil, regiões como no sul da Bahia, Amazonas, ou interior do Norte e Nordeste são exemplos que conheço de grande carência educacional, nas quais o ensino a distância poderia ajudar na educação básica. Estas plataformas estão revolucionando o ensino e ao mesmo tempo trazendo sensação de alegria e de completude humanitária aos profissionais que vêm seu trabalho germinar em terra fértil da carência educacional, trazendo os professores “remotos” ao alcance dos estudantes em áreas rurais.

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Maurício Ferro

O que o futebol, vinhos, direito, política e economia têm em comum? Muito mais do que você imagina. E ao contrário do que prega o ditado popular, podem e devem ser debatidos e analisados sim. Sejam bem-vindos ao site de Maurício Ferro, um canal para se criar e trocar pensamentos e opiniões. Maurício Ferro é advogado, formado pela PUC do Rio de Janeiro, com mestrado e especializações realizadas em universidades como a London School e University of London. Cursou OPM na Harvard Business School. Autor de trabalhos publicados nas áreas comercial e de mercado de capitais, e com atuação no Conselho de Administração de grandes empresas, fundamentou sua carreira jurídica e executiva com foco do Direito Empresarial. Mas sua paixão vai além do mundo corporativo. Flamenguista apaixonado, Mauricio conhece os meandros do mundo profissional do futebol e de outros esportes. É sócio em empresas inovadoras como a 2Blive, uma startup global focada em soluções tecnológicas para suprir a carência no ensino, especialmente em áreas de grande necessidade como a África. Investe ainda na empresa Flow Kana, sediada na California, e voltada para a produção científica da Canabis para diversos fins, como medicinal, produção de roupas ou uso recreativo. A todos esses ingredientes, adicione ainda um profundo conhecimento sobre vinhos e os caminhos deliciosos da enologia. Essa é a receita do que vocês encontrarão por aqui.

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