Annus Horribilis: Um Retrato do Ano de 2023
A expressão “annus horribilis”, de origem latina, traduz-se livremente como “ano horrível”. Segundo o Dicionário de Cambridge, define-se como “um ano de eventos extremamente ruins”. Entretanto, a frase ganhou notoriedade em 1992, quando foi utilizada pela Rainha Elizabeth II para descrever o pior ano de seu reinado, marcado por problemas e escândalos que abalaram a monarquia britânica.
O mais notório deles foi a deterioração do casamento de Charles e Diana, uma crise que capturou a atenção do mundo e simbolizou a desunião dentro da família real. Adicionalmente, a Rainha lidou com as separações conjugais de três de seus quatro filhos, ampliando a sensação de instabilidade real. O Castelo de Windsor, uma residência histórica e um símbolo da realeza, sofreu um grande incêndio, causando danos significativos e perda cultural. A privacidade da família real foi ainda mais abalada pelo vazamento de uma ligação íntima envolvendo Lady Di, um incidente que alimentou o frenesi da mídia. O lançamento de uma biografia reveladora da Princesa Diana adicionou mais controvérsia e escrutínio público. Finalmente, um escândalo envolvendo a Duquesa de York contribuiu para uma série de eventos que abalaram profundamente as estruturas da mais famosa monarquia do mundo.
Avançando no tempo, 2023 pode ser descrito de maneira semelhante, evidenciando uma série de eventos negativos que, em conjunto, o caracterizam como um possível “annus horribilis”.
Os Eventos de Brasília: Um Sinal de Alerta
O ano começou com eventos tumultuados em Brasília no dia 8 de janeiro. Esses acontecimentos, marcados por intensa agitação política e social, refletiram um período de instabilidade e descontentamento no cenário brasileiro. Este episódio não só abalou a nação, mas também ressoou internacionalmente como um símbolo de tensão democrática. E deixaram evidentes as marcas da polarização extrema vivida pelo Brasil, que beira o irracional.
Conflitos Globais: Guerra e Tensões
Internacionalmente, as guerras entre Rússia e Ucrânia, bem como entre Israel e Hamas, continuaram a ser fontes de desolação e descrença. Estas guerras não só causaram devastação direta, mas também contribuíram para a tensão política e humanitária global, afetando indiretamente muitas outras nações. Cada uma com seus motivos, mas todos muito rasos para se justificar tantas perdas humanas e tanta impotência das nações.
Desastres Naturais: Terremotos e Mudanças Climáticas
Os terremotos na Turquia e na Síria trouxeram destruição e luto, destacando a vulnerabilidade humana frente às forças da natureza. Além disso, a mudança climática, manifestada por ondas de calor extremas, se mostraram ainda mais fortes e assustadoras. Uma ameaça ambiental e de saúde que afetou ecossistemas e comunidades ao redor do mundo. E criou filas nas lojas em busca de aparelhos de ar-condicionado. Vale destacar: apenas entre aqueles que integram as minorias capazes de pagar os preços altíssimos que esses equipamentos alcançaram.
Tensões Territoriais: Azerbaijão e Nagorno-Karabakh
O ataque do Azerbaijão à região de Nagorno-Karabakh, um território separatista disputado por mais de três décadas, adicionou outra camada de instabilidade geopolítica ao ano. Este conflito, enraizado em disputas territoriais e questões étnicas, reforça a complexidade e a continuidade dos conflitos regionais.
Fiascos da bola: Desilusão no Esporte
Nem mesmo o Flamengo se salvou no ano. O desempenho abaixo das expectativas do time mais caro do Brasil foi melancólico. Considerado uma potência no futebol brasileiro, a temporada de 2023 foi marcada por derrotas e desapontamentos, impactando não só os fãs do clube, mas também a cultura esportiva do País que se acostumou a ver times saudáveis financeiramente se tornarem vencedores em campo. Ao fiasco rubro negro, soma-se ainda a derrocada vertiginosa do Botafogo, recém transformado em SAF, que fez o time perder o campeonato mais ganho da história. E, por que não, a sonora goleada sofrida pelo Fluminense na final do Mundial de Clubes contra o Manchester City, deixando claro o abismo que existe entre o futebol Sul-americano e Europeu. Aliás, nem por aqui o futebol brasileiro se destaca, dada a campanha vergonhosa de nossa seleção nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.
Mantendo a Perspectiva: Entre Desafios e Esperanças
Apesar da série de eventos negativos que marcaram 2023, é crucial manter uma perspectiva equilibrada. A história ensina que anos difíceis, como o “annus horribilis” de 1992 da Rainha Elizabeth, são seguidos por períodos de recuperação e renovação. Assim, mesmo diante das adversidades, há sempre espaço para a esperança e para a ação coletiva na busca por um futuro melhor
Existem pontos que dão lastro para o otimismo, mesmo em um conturbado 2023. Na questão econômica, o ano trouxe perspectivas positivas para 2024. A Bolsa de Valores alcançou bons números. O Dólar e a Taxa de Juros recuaram, ainda de forma discreta, mas o movimento aconteceu. Por fim, nos acréscimos do ano, aconteceu a tão prometida aprovação pelo Congresso Nacional da “resiliente” Reforma Tributária.
Dessa forma, embora 2023 possa ser caracterizado como um “annus horribilis”, é essencial lembrar que a trajetória da humanidade é marcada por altos e baixos. A capacidade de superar dificuldades e a esperança em dias melhores são qualidades intrínsecas ao espírito humano, que devem ser nutridas mesmo nos momentos mais sombrios. Ou seja, mesmo diante da perspectiva pessimista do artigo, eu reforço aqui meus votos a todos os leitores: um Feliz 2024, com a certeza de que a depender de nós, tudo pode ser diferente.
1 Comment
Muito bom, Maurício!
Parabéns pelo artigo,
Abraços.