História Política

A quem interessa esta guerra?

A quem interessa esta guerra?

“Os que lucram com a guerra não buscam a paz”

Brocado popular

Há quase uma semana, vemos chocados notícias sobre a guerra entre palestinos e israelenses. As barbaridades são aterrorizantes. Mulheres, crianças, civis sendo mortos a sangue frio é algo impensável nos dias de hoje e nos remonta às invasões bárbaras na Europa, do século V ao VIII. As atrocidades tendem a se agravar ainda mais, a depender das reações dos demais países vizinhos, como Irã, Arábia Saudita e Cisjordânia.

A cobertura jornalística detalha a origem do conflito, que remonta a 70 anos, com a criação do Estado de Israel e da Palestina, mas pouco aborda por que os líderes mundiais só acompanham à distancia a escalada de conflitos na região.

Esta é uma guerra atípica. Não se trata simplesmente de vencer, pois do ponto de vista de poderio militar o desequilíbrio é gigantesco entre os combatentes. Não se busca conquista de território, obtenção de poder ou imposição de um regime religioso ao inimigo. O tamanho irrisório de Gaza, um pouco menor do que ¼ da cidade de São Paulo, sua irrelevante localização geográfica para logística comercial e a inexistência de óleo e gás não justificam uma briga por território. Segundo dados do FMI, nesta pequena área vivem pouco mais de 2 milhões de pessoas com uma renda per capta equivalente a mais ou menos 1/3 da brasileira. Quase 40% do povo de Gaza tem menos de 14 anos. Ambos os lados buscam varrer o inimigo do planeta. Ou seja, o vencedor da guerra, além de genocida, trará para si terra infértil e multidão de pobres.

Sabendo que uma guerra tem sempre um objetivo político e econômico, quem está se beneficiando com esta guerra?

Os mais afobados logo apontam para a indústria bélica. Este setor, mesmo nos momentos de paz mundial, já movimenta quase 2 trilhões de dólares todos os anos, cerca de 2,7% do PIB mundial. Na maioria dos países está intimamente ligado aos governos, o que cria uma inibição no livre mercado de comércio armamentista. Portanto, dificilmente algum eventual benefício compensaria o prejuízo para os governos de todo o mundo, se compararmos com os demais efeitos colaterais que advirão desta guerra.

Os principais países produtores de petróleo não têm nada a ganhar. Estes, antes mesmo da guerra, já vinham exportando petróleo em larga quantidade, beneficiando suas contas públicas, abatendo dívida e gerando investimentos em infraestrutura. Se a guerra se expandir, haverá como sempre bombardeio de poços de petróleo e gás, de terminais portuários e de refinarias. Consequentemente, reaperto de sanções econômicas do ocidente.

É uma guerra absolutamente atípica que só gera perdedores. O povo palestino está prestes a ser dizimado, os israelenses aumentam o conflito com os demais povos árabes e muçulmanos, gerando mais instabilidade, o que é prejudicial para o desenvolvimento econômico da região. Conflitos armados geralmente causam devastação econômica nas áreas afetadas. Os altos custos associados à guerra, como destruição de infraestrutura, perda de vidas e necessidade de gastos em defesa e segurança, geralmente superam qualquer possível ganho econômico que possa haver, mesmo nos conflitos que buscam agregações territoriais, como no caso da guerra da Rússia com a Ucrânia. Ou seja, não será na região afetada que haverá algum benefício.

O preço do petróleo subirá; a taxa de juros da economia norte-americana será impactada e deverá interromper a sua trajetória de queda; a cotação das principais moedas do mundo sofrerá ataque especulativo. Ou seja, o conflito prejudicará ainda mais a já combalida economia mundial.

Além do mais, tudo leva a crer que Israel não poupará esforços para descarregar toda sua ira contra a barbárie sofrida. Em breve, haverá declarações de protesto sobre a virulência da resposta, revolta popular em países árabes e muçulmanos, e algum incidente que agrave ainda mais esta situação, que como sempre culminará com atentados terroristas pelo mundo afora.

Europa e Estados Unidos estão perdidos. Se reagiram rapidamente à guerra da Ucrânia, com sanções econômicas e apoio militar, financeiro e migratório ao país invadido, agora parecem em compasso de espera. China, como sempre, pouco se manifesta em conflitos externos.

A questão não é religiosa.

Há poucas décadas, não se falava tanto em Oriente Médio, mas em Levante, região geográfica que alcançava Palestina, Síria, Jordânia, Israel, Líbano e Chipre, podendo alcançar Turquia, Iraque, Arábia Saudita e Egito, onde em muitos momentos da história as diferentes religiões coexistiam de forma pacífica. Muçulmanos, cristãos e judeus conviviam em harmonia.

Até agora não se ouve manifestações dos líderes mundiais sobre o que fazer da desgraça contínua na região. Esta dança macabra do mundo com o Oriente Médio em constante conflito só tem gerado perdas à humanidade. Enquanto o mundo continuar achando que o problema é regional, as rotas de saída deste horror só tendem a se estreitar. Hoje já estão mais afuniladas do que o próprio território da faixa de Gaza.

Assim sendo, não consigo imaginar a quem interessa esta guerra.

About Author

Maurício Ferro

O que o futebol, vinhos, direito, política e economia têm em comum? Muito mais do que você imagina. E ao contrário do que prega o ditado popular, podem e devem ser debatidos e analisados sim. Sejam bem-vindos ao site de Maurício Ferro, um canal para se criar e trocar pensamentos e opiniões. Maurício Ferro é advogado, formado pela PUC do Rio de Janeiro, com mestrado e especializações realizadas em universidades como a London School e University of London. Cursou OPM na Harvard Business School. Autor de trabalhos publicados nas áreas comercial e de mercado de capitais, e com atuação no Conselho de Administração de grandes empresas, fundamentou sua carreira jurídica e executiva com foco do Direito Empresarial. Mas sua paixão vai além do mundo corporativo. Flamenguista apaixonado, Mauricio conhece os meandros do mundo profissional do futebol e de outros esportes. É sócio em empresas inovadoras como a 2Blive, uma startup global focada em soluções tecnológicas para suprir a carência no ensino, especialmente em áreas de grande necessidade como a África. Investe ainda na empresa Flow Kana, sediada na California, e voltada para a produção científica da Canabis para diversos fins, como medicinal, produção de roupas ou uso recreativo. A todos esses ingredientes, adicione ainda um profundo conhecimento sobre vinhos e os caminhos deliciosos da enologia. Essa é a receita do que vocês encontrarão por aqui.

1 Comment

  • Como todo conflito…quem sofre é o povo.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *